domingo, 5 de setembro de 2010

Doutor, cuidado com o jaleco!

É fácil encontrar nas redondezas de qualquer grande hospital: quem nunca viu um médico ou enfermeiro circulando de jaleco, aquele avental branco, no meio da rua? É um costume tão comum, mas que esconde riscos.




Apesar de aprenderem isso nas primeiras aulas da faculdade, muitos médicos, enfermeiros e biólogos esquecem que o tecido pode abrigar bactérias. É o alerta que faz uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).



Na hora do lanche, transitando entre prédios ou saindo do hospital, profissionais das áreas de saúde e biologia não tomam um cuidado que aprendem nas primeiras aulas da faculdade: o jaleco é um meio de transmissão de doenças e deve ter uso restrito.



“Eu sei que o jaleco pode ser um transmissor de doenças. Mas é que eu estou saindo do hospital, por isso estou com ele”, justificou um jovem.



“Eu não gosto de andar de jaleco, mas eu estou carregando muita coisa. Não desci com bolsa, daí desci com o jaleco”, disse a estudante de medicina Fernanda Cezar.



Apresentar um argumento capaz de derrubar as desculpas é a meta do estudo organizado pelo professor Marco Antônio Miguel, do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).



Para ter provas e exemplos dos riscos de contaminação, a equipe dele expôs pedaços de algodão e de tecidos sintéticos, comuns nestes uniformes, a cinco tipos de bactérias, as maiores causadoras das chamadas infecções hospitalares. O resultado: 90% das bactérias usadas no estudo resistiram nas amostras de tecido durante doze horas, e alguns tipos mostraram que podem resistir até três semanas no jaleco.



O estudo agora vai analisar a taxa de transferência das bactérias para outros meios, como mesas e balcões de lanchonetes, e também coletar amostras nos jalecos de profissionais que circulam pelo campus da própria universidade.



A equipe de reportagem do Bom Dia Brasil entrou no restaurante do Hospital Universitário. Médicos de jaleco pegam comida no bandejão e uma enfermeira diz que vem direto da emergência, sem tirar a peça.



“É tão corrido o nosso trabalho que não temos muito tempo para tirar e depois voltar”, comentou a enfermeira Aline Nóbrega.



O estetoscópio também acompanha a médica Cláudia Costa na parada para um lanche. “O jaleco, com certeza, é um transmissor de doenças. Tanto que, nas áreas de bactérias resistentes, a gente tem que usar capotes especiais”, alegou.



A direção do Hospital Universitário diz que os profissionais são proibidos de circular de jaleco nas áreas externas e no restaurante, mas explica que não há fiscais para impedir essa prática tão comum. O pesquisador Marco Antônio Miguel espera que o estudo ajude a mudar esse hábito.



“Eu espero que esses profissionais passem a ter certeza de que o risco acontece. Esses indivíduos devem sair da área de trabalho e deixar o jaleco dentro do seu ambiente de trabalho, tanto no laboratório, na clínica ou no ambulatório. Se ele não tiver onde deixar, ele coloca em um saco plástico e sai à rua”, defende o pesquisador do Instituto de Microbiologia da UFRJ, Marco Antônio Miguel.